A convite da Douro Family Estates (DFE) fui à apresentação dos vinhos desta nova empresa no restaurante Gemelli. Uma empresa duriense que resulta numa parceria e principalmente numa conjugação de esforços de quatro produtores que decidiram fazer uma nova marca de vinhos, pricipalmente virados para o mercado internacional.
É uma parceria de pequenas famílias produtoras de vinhos de quinta constituída pelas Quinta dos Poços, Quinta do Soque, Quinta das Bajancas e Brites Aguiar, que além de produzir vinhos prórpios também os comercializam. A sociedade, detida em partes iguais pelos quatro produtores, tem como objectivo principal potenciar a capacidade de vinificação instalada nas quatro quintas e actuar fortemente nos mercados de exportação.
O objectivo no futuro é cada produtor manter uma marca própria com valor acrescentado elevado, concentrando esforços numa marca comum, a DFE, nas suas três variantes: Classic, Premium e Signature. A ideia é fazer vinhos com uma grande relação qualidade/preço seguindo um procedimento simples: até 31 de Agosto de cada campanha são fixados os preços e a quantidade que cada produtor disponibiliza para cada um dos vinhos. Posteriormente, a equipa de enologia, composta por António Rosas e Pedro Sequeira, define a possibilidade de os produtores poderem ou não completar a sua quota em função do vinho que desejam criar.
Em conjunto, o grupo possui 92 hectares de vinha. Os produtores Brites Aguiar, Quinta do Soque e Quinta das Bajancas estão localizados na zona de Trevões, no concelho de São João da Pesqueira, e as vinhas (71 hectares) situam-se entre os 230 e os 500 metros, nas margens do rio Torto. A Quinta dos Poços, com 21 hectares de vinha, situa-se em Valdigem, no concelho de Lamego.
As exposições e os solos de todas as quintas são muito variáveis, para além de que se localizam em zonas bem diferentes da região: as três primeiras na sub-região do Cima Corgo, a quarta na sub-região do Baixo Corgo. Esta diversidade, aliada à existência de um elevado número de castas regionais, constitui uma mais-valia importante, pois permite seleccionar as melhores uvas das várias quintas em função das características climáticas do ano.
Deixo agora as minhas notas dos vinhos provados antes do almoço e também durante a refeição.
DFE Classic branco 2008Feito com as tradicionais castas do Douro, entre elas o Viosinho, o Rabigato e o Gouveio. O vinho envelheceu durante cerca de 6 meses em barricas de carvalho na adega de cada um dos produtores.
Tem uma cor amarelo citrino.
Aroma de boa intensidade e com a fruta a dominar, com notas citrinas (limão), ananás e maça. Temos também notas minerais e algum vegetal.
Boca com bom corpo e com uma bela acidez. A fruta aparece fresca por entre notas de madeira que lha arredonda o palato. Fundo mineral e com ligeiro vegetal.
Um belo branco, com boa fruta envolvida na madeira onde estagiou e com boas notas minerais que lha transmitem alguma austeridade positiva. Gostei do estlilo, muito equilibrado, com a acidez perfeita, muito bem enquadrada. 16.
DFE Classic tinto 2006
Temos aqui a gama de entrada nos tintos. Um vinho feito com as castas tradicionais do Douro e com tratamento e estagio em cubas de inox.
Cor rubi de concentração média/alta.
Aroma de intensidade mediana. Algo fechado no início, mas depois abre para fruta vermelha, com morangos maduros, entre notas vegetais.
Boca de volume mediano, tal como a acidez. Confirma o aroma, com notas e fruta entre sabores mais vegetais e com ligeiro toque floral. Final mediano e frutado.
Temos aqui um vinho que começa bem, com boa fruta, ligeiro vegetal, tudo muio simples e bem feito. Perde-se um bocado durante a prova, mostrando, talvez, que a sua melhor fase já tenha passado. Mas é um vinho que se bebe bem. Para o dia a dia. 14,5.
DFE Premium tinto 2007
Esta gama já tem uma imagem diferente, mais cosmopolita, mais "clean".
Feito com as castas tradicionais do Douro, já tem direito a estágio em barricas de carvalho.
Cor escura, jovem.
Aroma com boa intensidade e muito apelativo. Começa por nos dar vegetais, balsâmicos (cera) e minerais. Abre depois para uma fruta gulosa, com notas de cerejas, ameixas e groselhas. Com o decorrer da prova, mostra-nos também café e chocolate preto.
Boca com bom corpo e uma bela acidez. Começa mineral e abre para sabores frutados e especiados, com notas de canela. Algum chocolate. Final longo e guloso.
Temos aqui um belo vinho, complexo, com um perfil muito apelativo, mesmo guloso. Um vinho perfeito para mostrar um Douro moderno. Devo dizer que o vinho melhorou ao longo da prova, o que é bom sinal. Gostei. 16.
DFE Signature tinto 2007O topo de gama da casa. Já tinha havido uma experiência, com um vinho de nome 2PR.
Este Signature é a nova versão desse vinho. Com uma garrafa mais elegante, um rótilo belíssimo, com perfil de topo.
Cor escura, concentrada.
Aroma intenso, com notas minerais, com a fruta a mostrar-se menos que no vinho anterior, com ameixas pretas. Temos ainda notas de cacau e algumas flores.
Boca encorpada e com uma bela acidez. Confirma o aroma, com a fruta algo escondida, com os sabores minerais, de cacau e de especiarias a marcar o palato. Final longo e complexo.
Temos aqui um vinho complexo, que está ainda um pouco fechado. Encorpado, elegante, muito fino. Não podemos deixar a temperatura passar os 16/16,5º, sob pena de o álcool dominar o vinho. Controlando a temperatura, temos aqui um belo vinho. 17.
Em jeito de conclusão, são um conjunto de belos vinhos. Um branco que gostei bastante, um Classic menos conseguido mas acredito que já foi bem melhor, um Premium muito bem feito, guloso e um Signature cheio de qualidade. Estão prontos para vencer fora de portas.
Como curiosidade, deixo a ementa qua acompanhou os vinhos no Gemelli:
-Calzone de requeijão e pakchoi sobre salada italiana, tempero ao balsâmico;
-Creme de batata com trufas de bacalhau e azeite de trufa preta;
-Fettuccine de cacau, molho de cogumelos e pancetta crocante;
-Torre de novilho guisado ao vinho tinto e cravinho, sobre spaetzli de pimentão doce e molho de ameixa preta;
-Bolo de pêras e caril, molho de chocolate branco e açafrão.