Segunda-feira, 15.02.10

Entrevista com João Paulo Martins

João Paulo Martins é jornalista especializado na área dos vinhos e, nessa qualidade, tem colaborado em vários jornais e revistas. É redactor da Revista de Vinhos e colaborador da revista Metrópoles, editada pela Área Metropolitana de Lisboa. Colabora também com o Expresso com suplemento anual de vinhos e publica, há treze anos consecutivos, o Guia Vinhos de Portugal, talvez o mais conceituado guia de vinhos em Portugal.

A meu convite, concedeu uma pequena entrevista ao Blog Pingamor. Uma entrevista com perguntas directas e respostas directas. Assim, retomei as entrevistas para o Blog com o crítico de vinhos mais seguido em Portugal.
Resta-me agradecer ao João Paulo Martins pela sua disponibilidade.

Entrevista

Como começou a sua experiência com os vinhos e na crítica especializada?

Comecei por ser um apreciador, curioso pelos vinhos velhos (a moda nos anos 70) e leitor assíduo do Jornal dos Vinhos (do semanário O Jornal) e das crónicas do Expresso. Desde cedo comecei a minha própria garrafeira com vinhos que ia comprar a um produtor de Aveiras de Cima e depois engarrafava em casa. Rapidamente peguei a mania a muitos amigos e às tantas já era um carro cheio de jerricans que vinha para Lisboa (sem guia de transporte, claro…). À crítica cheguei naturalmente após alguns anos como colaborador do Jornal dos Vinhos, para onde entrei em 89.

Qual o papel da crítica no desenvolvimento dos vinhos portugueses?

Posso ficar mal na fotografia se disser que a crítica foi muito importante porque estou a ser juiz em causa própria mas penso que é reconhecível que a crítica independente e de matriz jornalística (que não é toda…) tem contribuído para melhorar a apreciação e exigência do consumidor. Acho que há uma crítica dirigida e útil para o consumidor e outra crítica inútil porque voltada para o próprio umbigo do crítico. Cabe ao público decidir qual lhe serve melhor.

Na sua opinião, qual o caminho que os vinhos portugueses devem tomar, principalmente para a exportação?

Tem de haver um factor diferenciador, se não ficaremos esmagados porque não podemos competir em preço/quantidade com o Novo Mundo. A nossa diferença passa pelas castas e são essas que temos de promover. Penso que o público aprecia a diferença e mercados saturados de Chardonnay e Cabernet Sauvignon podem estar disponíveis para outras aventuras vínicas. Um dia virá em que os organismos oficiais perceberão que terão de investir milhões em promoção no estrangeiro, que com as migalhas actuais não vamos lá.

Temos realmente grandes vinhos, de classe mundial?

Temos o Porto, o Setúbal Moscatel e o Madeira. Já não é pouco. E depois temos alguns grandes, grandes vinhos do Douro, Bairrada e Dão. Um vinho de classe mundial tem de durar em cave, tem de continuar a ser de classe mundial ao fim de 15 ou 20 anos. Se assim não for, a tal classe não existe.

Falando agora no campo das provas, existem vinhos “feitos” para as provas cegas?

Espero que não mas não posso assegurar que não existam. Em ultima instância, o produtor é o principal prejudicado porque quem compra o vinho é o consumidor e, se não gostar e se sentir ludibriado, o produtor perde um ou vários adeptos. E perde-os para as colheitas seguintes, não apenas para a colheita em causa.

Já alguma vez provou um vinho e que não tenha tido uma boa apreciação e que depois, com calma, numa refeição, esse vinho se tenha mostrado diferente, para melhor?

Muitas vezes porque é impossível imaginar em definitivo com que pratos «esquisitos» este ou aquele vinho «esquisito» poderão ligar. É certo no entanto que a maioria dos vinhos tem um largo espectro de associação com a comida.

Alguma vez se assustou com alguma nota que tenha dado depois de “destapar” a garrafa?

Acontece, há sempre uma margem de manobra (erro?) que deriva de muitos factores: hora da prova, número de prova feitas antes, disposição, etc. Há que procurar minimizar esse tipo de erros, comparando um vinho com outros que tiveram a mesma nota, etc. É claro que em concursos esta prática não é lavada a cabo porque a nota final é a média ponderada de um grupo de provadores. Por vezes as surpresas são boas e outras más mas….é a vida!

Como vê os eno-blogs portugueses?

Vejo desfocado porque sou pouco frequentador. O desfocado aqui quer dizer que não tenho uma opinião fundamentada. É claro que são tribunas de opinião que todos têm direito a ter. A crítica não é um privilégio de uns quantos eleitos. O impacto da crítica é que é diferente mas não há muito a fazer sobre isso. E sou pouco frequentador porque tudo o que tenho para escrever para os vários jornais e revistas deixa-me pouco tempo e vontade para andar a navegar.

Segue algum deles assiduamente?

Como se imagina, não.

Qual o vinho que bebeu até hoje que mais o impressionou?

Resposta impossível. É que se eu beber Romanée Conti ao pé dum chato, o vinho vai saber-me mal, de certeza. Quer dizer que há o vinho e há a circunstância e um não funciona sem o outro. E não me imagino a beber um grande, grande vinho, sozinho. Fora de questão. Confesso que alguns Porto e Madeira me deixaram sem voz (e foram muitos, o que ainda é mais gratificante). Lá fora e assim de repente lembro-me de um Pichon Lalande de 1982 bebido em double magnum que era assombroso. E o Chateau d’Yquem 1988. E o Montrachet do DRC. E o…

Para quando um vinho de JPM?

O meu sonho era ter uma vinha de 0,01 ha para fazer uma barrica só para mim e amigos. Qualquer coisa que desse para fazer a poda com tesoura de unhas e vindimar bago a bago. Como se vê a ambição não mora aqui.

Qual o vinho que ainda não provou e que está “mortinho” por provar?

Krug Clos du Mesnil, Latour 1961, Cheval Blanc 47.


João Paulo Martins



publicado por allaboutwine às 06:59 | link do post | comentar | ver comentários (2)
Domingo, 12.07.09

Entrevista - Luis Lourenço / Quinta dos Roques

A Quinta dos Roques é um dos nomes maiores do Dão. Um nome que ajudou a região a voltar a estar entre as escolhas dos consumidores, que ajudou a reanimar uma região durante muitos anos moribunda.
É Luis Lourenço quem está à frente deste projecto familiar. De extrema simpatia, muito afável e de forte personalidade, aceitou prontamente ser entrevistado para este blog. Deixo aqui o seu projecto, as suas ideias e opiniões.
É a segunda entrevista do blog e desde já agradeço a Luis Lourenço a sua disponibilidade para responder a estas perguntas.






Depois da fase atribulada que o Dão passou nos anos 80 e 90, a Quinta dos Roques foi uma das principais alavancas para a retoma da região. Conte-nos um bocado da sua história e como foi o arranque do seu projecto.
A história da Quinta dos Roques é uma história como tantas outras no Dão: uma família com algumas parcelas, uma agricultura “multi-produto” e que a certa altura se confronta com a necessidade de tornar viável a sua exploração.
Tendo-se decidido pela produção de vinho, o primeiro passo, em 1978, foi o de plantar vinhas segundo as mais modernas técnicas mas mantendo um encepamento com base exclusivamente nas castas tradicionais – Touriga Nacional, Jaen, Alfrocheiro e Tinta Roriz às quais juntámos o tinto Cão no que diz respeito às tintas e Encruzado, Malvasia Fina, Bical e Cercial em brancas.
Em 1990 construímos a nova adega e a partir daí começámos a engarrafar os nossos vinhos.
Aproveitando os conhecimentos do mercado internacional que o meu sogro, Manuel Oliveira, tinha, apostámos desde o início fortemente na exportação, sendo que presentemente exportamos cerca de 85% da nossa produção que varia entre as 120.000 e 150.000 garrafas/ano.
Os mercados mais importantes são o Canadá, Japão, EUA, Bélgica e Portugal.
Quais são as principais características dos seus vinhos, do “seu” terroir?
Se eu quisesse caracterizar os vinhos da Quinta dos Roques numa única palavra, eu escolheria “gastronómicos”.
Como tal são complexos no aroma e na boca, elegantes, frescos e com boa estrutura mas sem serem compactos.
São mais expressivos na boca do que no aroma e com bom potencial de evolução em garrafa.Em termos de solos, as vinhas estão plantadas em terrenos predominantemente graníticos com alguns afloramentos de xisto e argila.
Qual o segredo dos seus “Encruzados”?
O segredo é muito simples: boa casta, boas uvas, bom enólogo e bom adegueiro. Depois é não desvirtuar as características da casta – frescura, boa estrutura e equilíbrio não (ab)usando da madeira por motivos unicamente folclóricos.
Penso que ainda não fez rosés nem colheitas tardias. Dado que o Dão tem boas condições naturais para este tipo de vinhos, deixo-lhe a pergunta. É opção ou ainda “não calhou”?
Na verdade, fazemos com alguma regularidade um rosé mas Espumante Natural e este é vendido para exportação na sua quase totalidade.
Em relação aos “outros” rosés, fazer já fiz, só que não gostei dos resultados!
Vou continuar a fazer ensaios e quando houver algum que me agrade logo veremos.
No tocante aos colheitas tardias, permita-me que discorde – o Dão não tem condições naturais para este tipo de vinho.
Aliás, eu costumo dizer que “o Dão tem muitas coisas nobres mas a podridão não é uma delas”…
Como é sabido, o Dão tem para os seus tintos quatro castas principais, a Touriga Nacional, o Alfrocheiro, a Tinta Roriz e o Jaen. Quase todos os vinhos são feios a partir delas. Qual a razão, para si, para que não se façam vinhos com outros encepamentos, se é que eles existem?
Efectivamente estas 4 castas são as principais mas existem outras, entre as quais se procurarmos, e se calhar não é preciso muito esforço, encontramos muita Baga também.
Eu sou dos que acreditam que o vinho é cultura, história, tradição, gastronomia e portanto penso que estas 4 castas são as que ao longo do tempo a experiência e o saber dos Homens da Terra foram seleccionando por serem as que melhor se adaptavam ao “terroir” e à gastronomia da região.
Neste momento, a Touriga Nacional é considerada a melhor casta tinta portuguesa, a que todos querem nos seus rótulos. Tem medo da sua internacionalização, dado ser um dos pontos fortes do Dão?
Não, rigorosamente nenhum!
O ponto forte do Dão não é (só) a Touriga Nacional, o ponto forte do Dão é ser o Dão!
Os seus solos, rios, montanhas, castas e o saber dos homens é que fazem a diferença. Logo quanto melhor os homens souberem harmonizar todos estes factores, melhores serão os vinhos do Dão.
Em relação à Touriga Nacional que se produz na Quinta dos Roques, seja para os vinhos de lote seja para o monovarietal, ninguém a consegue replicar; é precisamente essa a definição de “terroir”. Ninguém tem a mesma terra, as mesmas árvores, ervas, rios, relevo e clima que eu tenho…daí que quantos mais produtores fizerem Touriga Nacional (que eu por via das dúvidas decidi começar a chamar Touriga Portuguesa) melhor.
Ao contrário de outras regiões, é difícil ver um varietal de Tinta Roriz no Dão. Se é uma casta que entra em muitos lotes, porque não sozinha?
Penso que mesmo fora do Dão, em Portugal, a Tinta Roriz não aparece muitas vezes sozinha.
Acho que a Tinta Roriz foi seleccionada durante muito tempo para se obter quantidade e ainda estamos a pagar esse erro.
Não quer dizer que não apareçam, de vez em quando, alguns bons exemplares de monovarietal de Tinta Roriz mas diria que de uma maneira geral não existe regularidade suficiente em termos de qualidade para que se aposte num vinho exclusivamente de Tinta Roriz.
Acha que o Dão, apesar dos grandes vinhos que tem, e que a meu ver cada vez mais, vai-se conseguir bater com as duas grandes regiões portuguesas, Douro e Alentejo, ou vai ser sempre o eterno terceiro nas escolhas dos portugueses?
Primeiro temos de ver o que significa “bater-se”.
A realidade é que em termos de quantidades vendidas ninguém se bate com o Alentejo (à excepção dos Vinhos Verdes brancos) daí que para se dizer que o Douro é 2º e o Dão é 3º se tenha de contextualizar…
Se “bater-se” tem a ver com o “estar in”, o ser badalado, aí o Douro, actualmente, bate o Alentejo e o Dão cá dentro e ainda mais lá fora embora no estrangeiro o Dão ser bem capaz de congregar à sua volta mais “opinion makers” do que o Alentejo (novamente, em termos de quantidade a história é outra…).
Ainda para mais, penso que o estilo de vinhos que pouco a pouco começa a ser preferido pelos “opinion makers” e também pelos consumidores, pode ser uma boa oportunidade para o Dão mostrar todas as suas potencialidades e diferença, assim os produtores do Dão se esforcem, cresçam em dimensão e qualidade e porque não em número também.
Um dos problemas do Dão é que continua a haver um número reduzido de produtores apostados na qualidade.
Agora uma pequena provocação. O Dão é considerado a Borgonha portuguesa devido à elegância dos seus vinhos. Tem conhecimento da experimentação da casta Pinot Noir no Dão? Acha que resultaria?
Não conheço qualquer experiência com a Pinot Noir no Dão.
Resultar até podia resultar mas acrescentava alguma coisa aos vinhos do Dão? Acho que não.
Tal como não acho que esta ou outra casta “estrangeira”, introduzida agora por uma questão de moda, viesse acrescentar alguma coisa a esta ou a outras regiões.
Ocasionalmente até podem dar origem a um vinho muito falado cá dentro; mas quando se compara com os vinhos do “terroir” original? Acrescentam alguma coisa? Tenho muitas dúvidas.
Um vinho que levava para uma ilha deserta?
Uma pergunta destas leva muitas vezes a cairmos na imodéstia, a olhar para o nosso umbigo, ou então na “snobeira” dos vinhos “milionários”.Espero fugir às duas escolhendo um Madeira Malvasia 20 Anos ou um Porto Tawny 20 Anos.
publicado por allaboutwine às 09:17 | link do post | comentar | ver comentários (4)
Sábado, 09.05.09

Entrevista - Luis Roboredo / Gravato


Para iniciar a serie de entrevistas, nada melhor do que começar numa das zonas de Portugal que, apesar de estar numa região vinícola sem grande projecção (Beiras), tem dado muito aos vinho do Douro e especialmente do Porto. São grandes as quantidades de uvas vendidas às grandes casas de Vinho do Porto que saem desta região e mais concretamente deste produtor.
Luis Roboredo é uma personagem muito característica, de grande frontalidade e de conversa fácil e muito interessante. Deixo aqui algumas das suas ideias, o seu projecto e outras curiosidades.
Resta-me agradecer ao produtor pela sua simpatia e disponibilidade ao me conceder estas palavras.








Quando começou a aventura de engarrafar os seus vinhos, tendo em conta que desde sempre tinha a matéria-prima e a vendia a grandes casas de Vinho do Porto?
Tudo começou quando o meu pai no ano de 2002 me entregou as chaves da quinta dos Barreiros para eu começar a tomar conta da mesma. Até essa data a quinta era para mim um lugar de férias onde eu passava 15 dias por ano, o meu hobby era a vela (campeonatos), por minha vontade já teria pegado nela mais cedo mas devemos respeitar a vontade do meu pai, ele é mais velho e por algum motivo fez as coisas como fez. Logo comecei a ver as coisas de outra forma, se vendíamos uvas às grandes casas e eles têm grandes vinhos nós também os poderíamos fazer, assim nasce a construção da Adega em 2003, pobrezinha em dimensões, mas muito bem equipada de cubas e maquinaria, ou pelo menos é a opinião da maior parte dos enólogos que a visitam. Comecei a apreender a fazer vinho com um grande amigo meu enólogo que me ajudou dando-me a coragem necessária e formação intensa, e apanhei o “bichinho” do vinho. E depois senti uma necessidade de o aperfeiçoar cada vez mais, eu sou uma pessoa bastante irrequieta, e o começo foi bastante complicado, sou filho único sem a ajuda de ninguém durante os primeiros 3 anos saía do escritório no Porto na sexta à noite para ir para a quinta, férias, e todo o pouco tempo que dispunha era lá passado. Mas valeu a pena. E continua a valer.
O que começou a ser um negócio em part-time e com o crescimento que todos vemos, tem alterado a sua rotina quotidiana? Passou a ser um negócio a full-time?
Infelizmente ainda não começou a ser um negócio a full-time, mas creio que daqui a uns 2 anos será… a vida continua extremamente complicada para o nosso lado, porque é tudo feito por mim e uns amigos que me vão ajudando como podem, desde a vindima, até à parte final da realização do vinho, a passar pela imagem, site, e parte inicial da comercialização, fazemos tudo, incluindo receber pessoas e eventos na quinta (passeios de btt, jeeps, torneios de tiro), no ano 2008 começamos também a vender com maior frequência à porta da Quinta dos Barreiros os nossos Gravato. A maior relutância vem da parte das lojas, isto apesar de saber que existe procura para os vinhos, o Gravato Tinto pelas classificações que vem conseguindo e o Gravato Palhete pela “originalidade” e curiosidade da parte das pessoas.
Falando dos seus vinhos, de onde surgiu a ideia de fazer um Palhete?
A ideia de fazer o Palhete, veio desde a origem da família do meu pai que era da Mêda, lembro-me de em miúdo ver o meu avô e a seguir o meu pai a faze-lo. Ainda à muito pouco tempo recebi um e-mail de uma pessoa que dizia que nos anos 50 ouvia em casa de seu pai a seguinte frase “Não é tarde nem é cedo... beba vinho Roboredo”, referindo-se ao palhete, este tipo de vinho que vendiam a granel era um sucesso no Porto e em alguns pontos do país. Era feito naquele tempo com a mistura das uvas das várias quintas entre a Beira Interior e o Alto Douro, com as castas típicas da região. Bem como mais tarde apercebi-me da importância deste vinho na história dos vinhos nacionais, tendo sido iniciada a sua produção desde o tempo dos romanos até aos nossos dias.
O Palhete é um vinho que se bebe ao fim da tarde, um aperitivo, ou é um vinho essencialmente para a refeição?
O Palhete pode e deve ser bebido a qualquer hora e a qualquer momento, essa é uma das características que o tornam um vinho especial com carne ou com peixe, fresco ou natural, especialmente indicado para acompanhar pratos onde predomina o nosso fantástico azeite português.
Teve uma crítica em relação seu Palhete de um conhecido jornalista nacional, que o comparou com um rosé. Qual a diferença entre os dois tipos de vinho?
As diferenças estes dois tipos de vinhos são várias e inconfundiveis, começando pela mais importante que segundo a lei, “Decreto de Lei 442/99 de 2 de Novembro do Diário da República que no seu 8º artigo regulamenta os métodos de vinificação dos palhetes na Beira Interior”, um Rosé é feito com uvas tintas, o nosso Palhete é uma mistura de uvas maduras, brancas e tintas logo desde o inicio do processo de vinificação o que lhe dá um ph natural de 3,2 / 3,4, um Rosé é fermentado a frio como se de um branco se tratasse, o Palhete faz-se sozinho, sem que seja necessária a mão humana, e praticamente sem usar qualquer tipo de químico, a cor do palhete, neste caso o nosso é Rubi claro, bem mais escuro do que um rosé que tem cor rosada, um Palhete realizado com as nossas castas pode envelhecer num bom caminho evolutivo, o que não é normal num Rosé, num Palhete nota-se os taninos ligeiros, o Rosé dificilmente os tem visto não ser essa a intenção, o aroma é completamente diferente, sendo que no Palhete é bastante mais intenso. O Rosé bebe-se sempre mais fresco do que o nosso Palhete.
Julgo saber que o Gravato 2004 também foi feito só com Touriga Nacional. Na colheita de 2006 incluiu o nome da casta no rótulo. É um nome que ajuda a vender?
No ano 2006 coloquei no rotulo "Touriga Nacional" é verdade, foi pela simples razão da entrada frustada num concurso de touriga nacional organizado na altura pela revista Blue Wine com o Gravato Tinto 2004, fui desclassificado pela falta do nome da casta no rotulo, disseram-me que podia induzir em erro o cliente final.Quando na altura perguntei em que lugar ficava disseram-me, em 1º lugar, porque o vinho que ganhou teve um 16,5, era um Douro, e o nosso apareceu na tabela top 100 de 2007 logo no Mês seguinte com 17,5. Mas é verdade tenho a inteira noção de que o nome por si só ajuda a vender, muito embora não é fácil fazer um monocasta de Touriga Nacional vencedor, é uma casta boa para a composição de outros vinhos, já todos nós sabemos isso, isolada, tem que ter um solo, e um clima extraordinário para fazer um vinho de excepcional....e acho que os melhores vão certamente representar Portugal por esse mundo fora com a dignidade de uma casta inteiramente nacional, com um produto genuino e dificilmente copiado por outros....
A Mêda sempre foi conhecida pelos vinhos produzidos e também pelas uvas vendidas a grandes casas. Esgota toda a sua produção com os seus vinhos ou continua a vender uma parte das suas uvas?
Não esgoto a produção das uvas com o meu vinho, aliás a maior parte da produção de uvas (Touriga Franca, Roriz e Touriga Nacional) são vendidas a uma das maiores casas de vinho do mundo.
Quais são as principais características dos seus vinhos e, já agora, da região onde está inserido?
As principais características dos meus vinhos, estão nos valores e equilíbrios correctos quer da acidez, quer dos seus taninos, quer do não abuso da madeira, quer da diversidade dos solos, nos quais abunda o quartzo tão importante na frescura do palhete, bem como a densidade do tinto no seu contacto com xisto, temos as nossas vinhas em altitudes consideráveis, entre os 600 e os 700 mts, e o ar quente, seco e ventoso abunda. O grau alcoólico não é problema nesta zona, regra geral os tintos andam na casa dos 14º a 14.5º, e os palhetes entre os 13º e 13,5º. Sendo que aplicamos todo o nosso esforço e atenção nos timings correctos da colheita das uvas, bem como da sua escolha, tudo é pesado e calculado antes de entrar em produção, com um enorme carinho e espírito. Sabendo desde já, que se caso a qualidade não seja a pretendida este vinho será vendido a granel.
Está no seu horizonte fazer brancos?
Não muito embora tenha sido já criticado a esse respeito, visto ter umas uvas brancas consideradas fora de série, algumas vinhas com mais de 60 anos, Síria Velha e Rabigato.
Qual o vinho da sua vida?
O Palhete sem sombra de dúvida, “Um todo-terreno no mundo dos vinhos”
publicado por allaboutwine às 04:53 | link do post | comentar | ver comentários (7)
Sexta-feira, 08.05.09

Entrevistas

O blog Pingamor vai começar uma série de entrevistas a produtores, para assim melhor conhecermos os seus projectos, as suas histórias, os seus vinhos. Uma iniciativa que, espero, será dinamizadora para o blog e bastante interessante para os leitores. O sucesso da mesma será directamente propocional à boa vontade dos produtores, a quem desde já agradeço a cooperação.
publicado por allaboutwine às 05:52 | link do post | comentar | ver comentários (2)

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