Quinta-feira, 04.03.10

Factor identidade...ou não!

Pegando num excelente artigo do amigo João Carvalho, que me fez pensar no assunto, decidi contrapor, fazer o papel do "advogado do diabo", por muito que não o queira ou concorde com o caminho que os vinhos estão a tomar. Não podemos virar as costas ao que está a acontecer no mundo, com a globalização  e com todos os males e bens daí inerentes.

Para este caso, o que nos interessa é a globalização do gosto, os produtos tornam-se parecidos, virados para os gosto comum, virados para quem os compra. No fundo é isso que interessa, não é? Vender os produtos. É uma postura realista e empresarial, mas não podemos fugir a isso, é o que faz os projectos vencer, vingar no mercado cada vez mais saturado e feroz. Hoje em dia quem produz o que quer, como quer, sem olhar para o mercado, sem saber se tem condições para vender, ou não precisa do negócio para sobreviver ou não joga com o baralho todo. É triste, deixa-me triste, mas a visão romântica do vinho não enche os bolsos.

O que o consumidor procura num vinho? Procura um vinho que saiba bem, de que goste. Quer saber de onde ele vem? Alguns querem, mas muito poucos. Onde fica a tipicidade no meio disto? Nós quando compramos um vinho, compramos uma região ou um determinado vinho dessa região? Quando compramos o Charme, compramos um vinho do Douro? Quando compramos um Anima, compramos um vinho do Sado? Quando compramos um Herdade dos Grous, compramos um vinho do Alentejo? Quando compramos um Aalto PS, compramos um vinho espanhol? Acho que não, compramos grandes vinhos e no fundo é isso que conta.

Parece-me que caminhamos para um mundo de vinhos e não de regiões. Fazendo a analogia, o Benfica é uma equipa menos portuguesa sem portugueses no "onze principal"? (o meu Sporting mesmo assim safa-se). Gostam menos do Real Madrid sem espanhóis na equipa? Duvido. O que importa é ganhar e quando se ganha esquece-se a origem. Como nos vinhos, quando são bons, esquecemos a sua origem.
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publicado por allaboutwine às 02:42 | link do post | comentar | ver comentários (1)
Quinta-feira, 25.02.10

Prova dos Verdes

Uma recente prova no Instituto do Vinho e da Vinha, protagonizada pela região dos Vinhos Verdes, foi motivo para me fazer escrever estas palavras. Não, não vou tecer comentários dos vinhos provados, são vinhos que nós já conhecemos "de ginjeira" e que iria também tonar este post enfadonho.
Era um evento destinado a especialistas/criticos internacionais que iriam conhecer o que de melhor se faz na região dos Vinhos Verdes.

Como já disse, quem fez a escolha dos vinhos foi o própria CVRVV e que também conduziu a prova sem que primeiro, e com um video, mostrasse a região e as suas castas.
A prova seguiu com três (3!) provadores, um crítico de vinhos norueguês e dois wine-bloggers portugueses. Uma situação não esperada dado que foram convidados mais provadores, principalmente estrangeiros. Uma falta de respeito mas acima de tudo, será que podemos falar em falta de interesse? O que me leva a pensar sobre o interesse que o vinho português desperta lá fora. Uma prova com os "melhores vinhos verdes" nacionais não é argumento suficiente para cativar o mundo enófilo? Faz-me chegar à conclusão que, antes de querer vender os vinhos, primeiro temos de os tornar apetecíveis, e isso é um trabalho árduo mas que tem de ser feito. Qual de nós, se fosssemos convidados para uma prova dos melhores brancos alemães, não iriamos a correr?

Um outro especto menos positivo da prova, a meu ver, foi a escolha dos vinhos. Bom, pensava eu, uma prova com os "melhores vinhos verdes" vai ser um espanto. A região tem-nos e em bom número e isso deixava-me descansado.
A escolha teria de ser criteriosa, com os melhores exemplares de cada segmento, dado o público alvo, e assim não foi. Seguiram-se vinhos e mais vinhos, com algumas boas excepções,  demasiado "verdes", cheios de "agulha" e sulfuroso, alguns deles quase impossíveis de serem bebidos. Um autêntico tiro no pé! Mas é esta a imagem que queremos passar? Não acredito. Os espumantes, estes,  portaram-se muito bem,  bem feitos e belos parceiros na mesa.

Esperemos que "o" crítico norueguês goste de uma boa dose de sulfuroso e de ter a boca adormecida pela violência da "agulha". Fora isso, tudo bem.
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publicado por allaboutwine às 01:53 | link do post | comentar | ver comentários (5)
Segunda-feira, 25.01.10

Crónica do vinho mal-amado

O que leva um consumidor correr atrás de um vinho que foi bem pontuado por algum guru da crítica?
Foi essa a questão que me fiz a mim próprio e que penso ser merecida de algumas palavras numa curta crónica.

Neste imenso mar de vinhos, nacionais e internacionais, fazer o seu vinho sobressair é uma tarefa árdua. Podemos utilizar os profissionais do marketing, com certeza, podemos correr o mundo a dá-lo à prova, este com margem de sucesso mais reduzida, ou podemos ter a sorte de algum crítico ter gostado dele e assim vende-lo como pevides. Pelo menos se o provador for conhecido e referenciado, claro está. Resulta? Claro que resulta! Melhor que gastar o budget em comunicação, sai mais barato e ainda leva o selo de garantia.

Mas e aqueles que eles não gostam? Como ficam eles? Epá, esse não deve valer nada, o Miguel só lhe deu 15. Mas como o Miguel o provou? Claro que no meio dos outros todos, mas coitado deste que tem a insensatez de ser diferente e que não resulta bem se for avaliado como os outros. Pedia um pouco mais de atenção, mas a rigidez dos 30 segundos deixa-o de fora do estrelato, pedia alguma gordura na boca que a bolacha de água e sal não tem, mas ainda era cedo e não acompanha bem uns Clusters.

Onde acaba o nosso vinho? Acaba na mão de quem o mimou e, passados 5 anos, ele presenteia-nos com a sua sabedoria, ainda sem rugas e com a jovialidade de um adolescente com acne.

Conhecem algum vinho assim?
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publicado por allaboutwine às 12:16 | link do post | comentar | ver comentários (4)

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