Factor identidade...ou não!
Pegando num excelente artigo do amigo João Carvalho, que me fez pensar no assunto, decidi contrapor, fazer o papel do "advogado do diabo", por muito que não o queira ou concorde com o caminho que os vinhos estão a tomar. Não podemos virar as costas ao que está a acontecer no mundo, com a globalização e com todos os males e bens daí inerentes.
Para este caso, o que nos interessa é a globalização do gosto, os produtos tornam-se parecidos, virados para os gosto comum, virados para quem os compra. No fundo é isso que interessa, não é? Vender os produtos. É uma postura realista e empresarial, mas não podemos fugir a isso, é o que faz os projectos vencer, vingar no mercado cada vez mais saturado e feroz. Hoje em dia quem produz o que quer, como quer, sem olhar para o mercado, sem saber se tem condições para vender, ou não precisa do negócio para sobreviver ou não joga com o baralho todo. É triste, deixa-me triste, mas a visão romântica do vinho não enche os bolsos.
O que o consumidor procura num vinho? Procura um vinho que saiba bem, de que goste. Quer saber de onde ele vem? Alguns querem, mas muito poucos. Onde fica a tipicidade no meio disto? Nós quando compramos um vinho, compramos uma região ou um determinado vinho dessa região? Quando compramos o Charme, compramos um vinho do Douro? Quando compramos um Anima, compramos um vinho do Sado? Quando compramos um Herdade dos Grous, compramos um vinho do Alentejo? Quando compramos um Aalto PS, compramos um vinho espanhol? Acho que não, compramos grandes vinhos e no fundo é isso que conta.
Parece-me que caminhamos para um mundo de vinhos e não de regiões. Fazendo a analogia, o Benfica é uma equipa menos portuguesa sem portugueses no "onze principal"? (o meu Sporting mesmo assim safa-se). Gostam menos do Real Madrid sem espanhóis na equipa? Duvido. O que importa é ganhar e quando se ganha esquece-se a origem. Como nos vinhos, quando são bons, esquecemos a sua origem.