Domingo, 28.02.10

Os vinhos Terras de Tavares - o Dão em Lisboa


João Tavares de Pina veio a Lisboa e apresentou os seus vinhos aos blogs num almoço/lanche/jantar. Trouxe praticamente todos os vinhos feitos até hoje, desde os mais velhotes (1997) até aos mais recentes (2008).

Podemos dizer que os vinhos Terras de Tavares e Torre de Tavares são da "velha escola" do Dão. Vinhos de terroir, vinhos feitos na vinha com o aproveitamento de tudo o que ela dá e não vinhos chamados "tecnológicos", vinhos feitos para as provas cegas, mascarados com carradas de fruta e madeira. Talvez seja por isso que os vinhos desta casa sejam incompreendidos e muito mal tratados na imprensa "especializada". 



Os vinhos do Dão estão a mudar, estão a perder as suas principais características, o seu terroir, e estão a ficar iguais aos outros. Não quero com isto dizer que sejam vinhos maus, claro que não, muitos deles são grandes vinhos, mas são grandes vinhos...como os do Douro e Alentejo o são. Quem busca a diferença já tem alguma dificuldade em encontrar vinhos que o realmente sejam. São os que sobrevivem a esta tendência de modernização dos vinhos e João Tavares de Pina é um deles. Vinhos com pouca fruta, balsâmicos e muito elegantes são a marca dos vinhos Terras e Torre de Tavares. Quem busca uma alternativa, aqui a tem.
Passo a uma pequena descrição dos vinhos provados, com algumas notas de prova.

Vinhos Torre e Terras de Tavares

Terras de Tavares Síria branco 2009
Belo aroma, citrino, mineral, vegetal fresco,madeira ligeiramente perceptível mas bem integrada. Um vinho muito elegante e pronto para beber. 16.

Terras de Tavares Encruzado branco 2008
Aroma contido, citrinos, marmelo maduro, alguma sensação de baunilha na boca. Encorpado e elegante. 16,5/17.

Terras de Tavares Encruzado branco 2007
Baunilha, mineral, citrinos com notas de toranja, toque floral. Está num belo momento. 16,5/17.

Terras de Tavares (Regional Beiras) tinto 2006
Um vinho muito balsâmico e floral. Fruta fina, com boa secura e elegante. Um autêntico Reserva. 16.

Terras de Tavares Touriga Nacional tinto 2005
Balsâmico e floral, mineral, fruta delicada. Gostei muito. 17.

Terras de Tavares Touriga Nacional tinto 2008
Floral, balsâmico fruta elegante com cerejas e amoras. Belíssimo. 17/17,5.

Amostra Tinta Pinheira 2009
Este vinho não vai ser engarrafado, com muita pena nossa. Cor ligeira, aroma delicado, fruta elegante, fumado, grande secura na boca e muito fresco. Quando o vimos no copo e o cheirámos parecia um autêntico Charme. Merecia ser engarrafado mas vai para lote. 16,5.

Torre de Tavares Jaen tinto 2005
Muita fruta mas muito fina, ligeira baunilha. Volumoso e muito fresco. Belo. 17.

Torre de Tavares Jaen tinto 2007
Fruta fresca, balsâmico, mineral e baunilha. Boca gorda e seca. 17.

Torre de Tavares Jaen (carvalho americano) tinto 2008
Frutado, elegante, chocolate com côco, balsâmico e mineral. Boca com grande secura e muito gastronómico, Bela boca. 17.

Torres de Tavares Jaen (carvalho francês) tinto 2008
Menos austero e com menos secura na boca. Gostei mais com o carvalho americano. 16.

Terras de Tavares Reserva tinto 2007
Um pouco mais maduro. Mineral, balsâmico, fruta elegante e flores. Boa secura na boca. 16,5.

Terras de Tavares Reserva tinto 2005
Na mesma linha, um pouco mais maduro. Notas de chocolate com morangos. Muito elegante. Gostei. 16.

Terras de Tavares Reserva tinto 2004
 Um ano quente, onde se notam aromas mais alicorados, docinhos, flores. Guloso. Eu gostei. 16.

Terras de Tavares Reserva tinto 2003
Fruta delicada, mais mineral e com notas balsâmicas. Muito fresco e com alguma secura. 17.

Terras de Tavares tinto 2002
Está na fase de "burro". Muitas notas animais, pele, chá, bagas frescas, compota, químicos. Boca redonda, fresca e com notas de azeitona. Vai melhorar. 15,5.

Terras de Tavares tinto 2001
Passou recentemente pelo que o 2002 está a passar neste momento. Está belíssismo, elegante, terroso. Boca fresca, volumosa e com alguma secura, cacau em pó. Grande vinho. 17/17,5.

Terras de Tavares tinto 1997
Muito elegante e perfumado. Um vinho numa fase excelente para beber. Grande evolução. 17.


Em jeito de conclusão, podemos dizer que os vinhos desta casa são vinhos muito elegantes, muito balsâmicos e onde a fruta e as flores aparecem de forma delicada, nada de excessos. Os Touriga Nacional são elegantes e equilibrados, os Jaen são poderosos a elegantes ao mesmo tempo (porque não se fazem mais vinhos desta casta em Portugal?), os Reserva complexos e minerais. E a Tinta Pinheira, bem essa merecia ser um grande vinho português. Temos mesmo muita pena. Talvez uma Cuvée dos Blogs? Ah, também gostei muito dos brancos.
Ficam as perguntas: como é que estes vinhos têm notas baixas? Provámos os mesmos vinhos que eles??

Agradeço ao João Tavares de Pina pela sua presença a especialmente por me ter apresentado estes vinhos. Passei a ser fã. Muito obrigado.
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Quinta-feira, 25.02.10

Prova dos Verdes

Uma recente prova no Instituto do Vinho e da Vinha, protagonizada pela região dos Vinhos Verdes, foi motivo para me fazer escrever estas palavras. Não, não vou tecer comentários dos vinhos provados, são vinhos que nós já conhecemos "de ginjeira" e que iria também tonar este post enfadonho.
Era um evento destinado a especialistas/criticos internacionais que iriam conhecer o que de melhor se faz na região dos Vinhos Verdes.

Como já disse, quem fez a escolha dos vinhos foi o própria CVRVV e que também conduziu a prova sem que primeiro, e com um video, mostrasse a região e as suas castas.
A prova seguiu com três (3!) provadores, um crítico de vinhos norueguês e dois wine-bloggers portugueses. Uma situação não esperada dado que foram convidados mais provadores, principalmente estrangeiros. Uma falta de respeito mas acima de tudo, será que podemos falar em falta de interesse? O que me leva a pensar sobre o interesse que o vinho português desperta lá fora. Uma prova com os "melhores vinhos verdes" nacionais não é argumento suficiente para cativar o mundo enófilo? Faz-me chegar à conclusão que, antes de querer vender os vinhos, primeiro temos de os tornar apetecíveis, e isso é um trabalho árduo mas que tem de ser feito. Qual de nós, se fosssemos convidados para uma prova dos melhores brancos alemães, não iriamos a correr?

Um outro especto menos positivo da prova, a meu ver, foi a escolha dos vinhos. Bom, pensava eu, uma prova com os "melhores vinhos verdes" vai ser um espanto. A região tem-nos e em bom número e isso deixava-me descansado.
A escolha teria de ser criteriosa, com os melhores exemplares de cada segmento, dado o público alvo, e assim não foi. Seguiram-se vinhos e mais vinhos, com algumas boas excepções,  demasiado "verdes", cheios de "agulha" e sulfuroso, alguns deles quase impossíveis de serem bebidos. Um autêntico tiro no pé! Mas é esta a imagem que queremos passar? Não acredito. Os espumantes, estes,  portaram-se muito bem,  bem feitos e belos parceiros na mesa.

Esperemos que "o" crítico norueguês goste de uma boa dose de sulfuroso e de ter a boca adormecida pela violência da "agulha". Fora isso, tudo bem.
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Terça-feira, 23.02.10

Quinta da Cassa tinto 2007

A Quinta da Cassa situa-se na margem esquerda do rio Douro, neste caso no Douro Superior. Um projecto recente, com vinhos cheios de qualidade e com preços que não assustam ninguém.
Desde a colheita de 2005 que os seus vinhos se apresentam com outra cara e que, a meu ver, para bem melhor. Em garrafa estilo Borgonha e com um rótulo de extremo bom gosto.

Segundo o produtor, só entram nesta marca as uvas com maturação perfeita, condições ideias para a produção de vinhos elegantes, objectivo da casa. A enologia está a cargo da VDS (Vinhos Douro Superior).
Esta colheita de 2007 foi feita com as castas Tinta Roriz, Touriga Nacional e Touriga Franca. Estagiou em barricas de carvalho.
A sua cor é rubi bem carregado.
Aroma intenso, que nos transmite desde logo uma sensação de bem estar, com um perfume abaunilhado por entre notas de fruta ácida a lembrar framboesas. Encontramos ainda aromas minerais e de cacau em pó.
A  boca tem um bom volume e excelente acidez. Muito fina, com a fruta muito bem conjugada com a madeira, onde se nota a baunilha sem ser excessiva e uma firme base mineral. Final longo e equilibrado.

Gostei imenso deste vinho. Sem ser um portento de complexidade, não o é, é um vinho muito equilibrado, com a fruta elegante, madeira bem integrada e acima de tudo com uma grande frescura. De perfil moderno mas sem perder as suas referências, é uma aposta ganha. Deu-me muito prazer. 16.
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Segunda-feira, 22.02.10

Azul Portugal (Douro) tinto 2008

Na continuidade das provas dos vinhos da marca Azul Portugal, viramo-nos para o Douro e para um vinho da autoria de João Silva e Sousa e Anselmo Mendes. As castas usadas foram a Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz e Tinta Barroca. Um vinho que não passou pela madeira.

Apresenta uma cor rubi escura, concentrada.
Aroma de boa intensidade e um pouco compacto, onde nos mostra logo as notas de fruta a lembrar framboesas ácidas, groselhas e ligeiro cassis. Tem uma forte faceta vegetal, lenho,  e um ligeiro balsâmico, com algumas notas de eucalitpo. Fundo floral com ligeiro toque alcoólico.
Boca de médio corpo e com uma boa acidez. Sabores austeros, com muito vegetal e algum álcool. A fruta nota-se mas está abafada por estes sabores mais fortes. Toque floral. Final mediano e fresco.

Temos aqui um vinho ainda muito jovem, e por isso ainda não está tudo muito bem definido. Não é um vinho muito frutado, longe disso, antes vira-se mais para a secura, rigidez e austeridade de aromas, com uma boa dose "puro Douro" bem vincada. Em suma, um vinho másculo que me parece ter sido feito e idealizado para a mesa, onde aí se tornará bom companheiro 14.
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Sexta-feira, 19.02.10

Castello d'Alba Reserva branco 2008

Falo agora de um vinho que é bem capaz de ser um dos três brancos portugueses com mais qualidade com um preço abaixo dos 5 euros. Assim de repente, lembro-me do Pegões Colheita Seleccionada e do CARMIM Reserva. E sejamos sinceros, não existem muitos vinhos do Douro baratos e com uma boa qualidade. Eles estão bem mais a sul de Porugal. É a minha opinião.

Temos aqui um vinho que nos chega do Douro Superior. A ideia do produtor (VDS-Vinhos Douro Superior) foi fazer vinhos que reflectissem a região mas com um carácter modernos e com bons preços. Pensando nos vinhos que estão sob a chancela da empresa, acho que o objectivo está a ser cumprido. Belos vinhos a bons preços.
Feito exclusivamente com Códega de Larinho e também com Rabigato e Viosinho. A frementação fei feita em carvalho americano e francês com agitação de borras (batonnage), onde permaneceu em estágio.
Um vinho com uma cor amarelo vivo e com aroma intenso, com muitos citrinos (limão) e ligeira notas de abacaxi. Fundo marcadamente mineral e com toque abaunilhado. A boca é de médio porte e com uma bela acidez. Muito citrinos e vegetal amargo, mineral e baunilha. Final com bom comprimento e ligeiramente abaunilhado.

Poucas palavras me restam para falar deste vinho, além de constactar que está muito bem feito, perfeito para a mesa e principalmente com um preço muito aliciante, sempre abaixo dos 5 euros.Uma bela aposta. 15,5.
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Quarta-feira, 17.02.10

Prima tinto 2007

Deixamos o Douro entramos em terras espanholas, no Duero. Ao contrário do Douro, cujos vinhos de mesa são feitos com uma grande variedade de castas, no lado espanhol reina o Tempanillo (Tinta del País, Tinto de Toro), a nosso Tinta Roriz e mais a sul, o Aragonês. Em Portugal é principalmente uma casta de lote, em Espanha ela atinge o expoente máximo no que toca a qualidade. Os vinhos monovarietais de Tempranillo impressionam.

As Bodegas Mauro é um dos grandes produtores da região, com vinhos ícon como o Mauro, o San Roman e o Terreus. Na linha de entrada temos o Prima, um vinho que fica abaixo dos 10 euros e é feito com 90% de Tempranillo e 10% Granache. Estagiou durante 12 meses em barricas de 1 e 2 anos de carvalho francês e americano.
Tem uma cor escura, concentrado.
Aroma intenso e muito guloso. Entre algumas notas balsâmicas, com toques de cera e eucalipto, encontramos baunilha farta, doce de tomate e cerejas pretas. Ligeira nota especiada, com pimenta preta.
Boca encorpada e com uma boa acidez. Segue a linha do aroma, com sabores frutados, balsâmicos e doce de tomate. Final longo e guloso, mas com uma acidez capaz de compensar algum excesso.

Temos aqui um belo tinto. Um vinho moderno, muito guloso, num perfil que pode não agradar aos mais conservadores, mas ninguém lhe fica indeferente. Foi feito em Espanha mas podia ter sido feito em qualquer parte do mundo, assim tenham os meios e o conhecimento. Pode-se adquirir por menos de 10 euros. 16,5.
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Terça-feira, 16.02.10

Quinta do Côa tinto 2007

Voltamos as Douro, mais propiamente ao Douro Superior e à CARM, aqui com um vinho de quinta, da sua Quinta do Côa.
Os vinhos CARM já provados neste blog seguem todos uma linha qualitativa alta e principalmente  com preços muito aliciantes.

Esta marca da CARM, o Quinta do Côa, existe na versão colheita e Reserva. Deixo a prova do colheita 2007, a versão que está neste momento no mercado.
É feito com as castas Touriga Nacional, Tinta Roriz e Touriga Franca.
Cai no copo com uma cor escura, concentrada.
Aroma com boa intensidade e muito frutado, que nos lembra amoras e ameixas. Tem um lado mais especiado com pimenta preta e também algum mineral.
Boca com bom corpo e boa acidez. Fruta intensa e elegante em ambiente mineral. Algum vegetal de fundo. Final mediano e com alguma austeridade.

Gostei do vinho, que tem uma boa dose de austeridade, fruta elegante e contida. Está bem feito, é muito boa companhia na mesa. Uma boa aposta nos vinhos até 10 euros. Este custa cerca de 7/8 euros. 16.
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Segunda-feira, 15.02.10

Entrevista com João Paulo Martins

João Paulo Martins é jornalista especializado na área dos vinhos e, nessa qualidade, tem colaborado em vários jornais e revistas. É redactor da Revista de Vinhos e colaborador da revista Metrópoles, editada pela Área Metropolitana de Lisboa. Colabora também com o Expresso com suplemento anual de vinhos e publica, há treze anos consecutivos, o Guia Vinhos de Portugal, talvez o mais conceituado guia de vinhos em Portugal.

A meu convite, concedeu uma pequena entrevista ao Blog Pingamor. Uma entrevista com perguntas directas e respostas directas. Assim, retomei as entrevistas para o Blog com o crítico de vinhos mais seguido em Portugal.
Resta-me agradecer ao João Paulo Martins pela sua disponibilidade.

Entrevista

Como começou a sua experiência com os vinhos e na crítica especializada?

Comecei por ser um apreciador, curioso pelos vinhos velhos (a moda nos anos 70) e leitor assíduo do Jornal dos Vinhos (do semanário O Jornal) e das crónicas do Expresso. Desde cedo comecei a minha própria garrafeira com vinhos que ia comprar a um produtor de Aveiras de Cima e depois engarrafava em casa. Rapidamente peguei a mania a muitos amigos e às tantas já era um carro cheio de jerricans que vinha para Lisboa (sem guia de transporte, claro…). À crítica cheguei naturalmente após alguns anos como colaborador do Jornal dos Vinhos, para onde entrei em 89.

Qual o papel da crítica no desenvolvimento dos vinhos portugueses?

Posso ficar mal na fotografia se disser que a crítica foi muito importante porque estou a ser juiz em causa própria mas penso que é reconhecível que a crítica independente e de matriz jornalística (que não é toda…) tem contribuído para melhorar a apreciação e exigência do consumidor. Acho que há uma crítica dirigida e útil para o consumidor e outra crítica inútil porque voltada para o próprio umbigo do crítico. Cabe ao público decidir qual lhe serve melhor.

Na sua opinião, qual o caminho que os vinhos portugueses devem tomar, principalmente para a exportação?

Tem de haver um factor diferenciador, se não ficaremos esmagados porque não podemos competir em preço/quantidade com o Novo Mundo. A nossa diferença passa pelas castas e são essas que temos de promover. Penso que o público aprecia a diferença e mercados saturados de Chardonnay e Cabernet Sauvignon podem estar disponíveis para outras aventuras vínicas. Um dia virá em que os organismos oficiais perceberão que terão de investir milhões em promoção no estrangeiro, que com as migalhas actuais não vamos lá.

Temos realmente grandes vinhos, de classe mundial?

Temos o Porto, o Setúbal Moscatel e o Madeira. Já não é pouco. E depois temos alguns grandes, grandes vinhos do Douro, Bairrada e Dão. Um vinho de classe mundial tem de durar em cave, tem de continuar a ser de classe mundial ao fim de 15 ou 20 anos. Se assim não for, a tal classe não existe.

Falando agora no campo das provas, existem vinhos “feitos” para as provas cegas?

Espero que não mas não posso assegurar que não existam. Em ultima instância, o produtor é o principal prejudicado porque quem compra o vinho é o consumidor e, se não gostar e se sentir ludibriado, o produtor perde um ou vários adeptos. E perde-os para as colheitas seguintes, não apenas para a colheita em causa.

Já alguma vez provou um vinho e que não tenha tido uma boa apreciação e que depois, com calma, numa refeição, esse vinho se tenha mostrado diferente, para melhor?

Muitas vezes porque é impossível imaginar em definitivo com que pratos «esquisitos» este ou aquele vinho «esquisito» poderão ligar. É certo no entanto que a maioria dos vinhos tem um largo espectro de associação com a comida.

Alguma vez se assustou com alguma nota que tenha dado depois de “destapar” a garrafa?

Acontece, há sempre uma margem de manobra (erro?) que deriva de muitos factores: hora da prova, número de prova feitas antes, disposição, etc. Há que procurar minimizar esse tipo de erros, comparando um vinho com outros que tiveram a mesma nota, etc. É claro que em concursos esta prática não é lavada a cabo porque a nota final é a média ponderada de um grupo de provadores. Por vezes as surpresas são boas e outras más mas….é a vida!

Como vê os eno-blogs portugueses?

Vejo desfocado porque sou pouco frequentador. O desfocado aqui quer dizer que não tenho uma opinião fundamentada. É claro que são tribunas de opinião que todos têm direito a ter. A crítica não é um privilégio de uns quantos eleitos. O impacto da crítica é que é diferente mas não há muito a fazer sobre isso. E sou pouco frequentador porque tudo o que tenho para escrever para os vários jornais e revistas deixa-me pouco tempo e vontade para andar a navegar.

Segue algum deles assiduamente?

Como se imagina, não.

Qual o vinho que bebeu até hoje que mais o impressionou?

Resposta impossível. É que se eu beber Romanée Conti ao pé dum chato, o vinho vai saber-me mal, de certeza. Quer dizer que há o vinho e há a circunstância e um não funciona sem o outro. E não me imagino a beber um grande, grande vinho, sozinho. Fora de questão. Confesso que alguns Porto e Madeira me deixaram sem voz (e foram muitos, o que ainda é mais gratificante). Lá fora e assim de repente lembro-me de um Pichon Lalande de 1982 bebido em double magnum que era assombroso. E o Chateau d’Yquem 1988. E o Montrachet do DRC. E o…

Para quando um vinho de JPM?

O meu sonho era ter uma vinha de 0,01 ha para fazer uma barrica só para mim e amigos. Qualquer coisa que desse para fazer a poda com tesoura de unhas e vindimar bago a bago. Como se vê a ambição não mora aqui.

Qual o vinho que ainda não provou e que está “mortinho” por provar?

Krug Clos du Mesnil, Latour 1961, Cheval Blanc 47.


João Paulo Martins



publicado por allaboutwine às 06:59 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Dominio de Tares Godello Fermentado en Barrica branco 2008

O Godello é uma das variedades mais antigas de Espanha, já desde o tempo da ocupação romana na Península Ibérica. É característico das zonas de D. O. Valdeorras e, em menor medida, da D. O. Bierzo. Um casta de ciclo curto, com baixos rendimentos e muito propícia às doenças. Dão origem a vinhos com qualidade e muito aromáticos e com boa capacidade de evolução em garrafa.

Um dos produtores que trata bem a casta é o Dominio de Tares da D.O. Bierzo. Uma região onde as castas Godello, Palomino e o Mencia (o nosso Jaen) dominam o encepamento. É incrível a facilidade com que encontramos excelentes vinhos e com preços aliciantes nesta região, principalmente os tintos feitos com Mencia.

Este vinho em prova é 100% Godello e estagiou durante 3 meses em barricas novas de carvalho francês em contacto com as borras e com batonnage diário.
Tem uma cor amarelo citrino vivo.
Aroma com boa intensidade e que nos mostra notas citrinas, como limão e lima, com outro tipo de frutas, tais como pêras e maçãs maduras. Tudo na companhia de baunilha.
Boca com bom corpo e boa acidez. Com boa amplitude, ela transmite-nos sabores frutados, citrinos e de polpa branca. Fundo abaunilhado, aqui menos sentido que no aroma. Bom final, muito fresco e abaunilhado.

Não conhecia esta casta e devo dizer que a primeira impressão foi muito boa. É um vinho muito frutado, não muito encorpado mas com uma boa frescura e parece-me que o casamento com a madeira é muito positivo. Talvez lhe falta alguma estrutura para aguentar largos anos em garrafa, mas aguenta claramente mais algum tempo. Godello, uma casta espanhola a ter em conta. 16,5.
publicado por allaboutwine às 06:05 | link do post | comentar
Domingo, 14.02.10

Negreiros tinto 2007

Depois de ter provado o 2005, deixo a prova do 2007. Um vinho feito com Touriga Naciona, Touriga Franca, Tinta Roriz e Tinta Barroca e que estagiou 10 meses em barricas de carvalho francês. Primeiro vinho com a enologia de João Brito e Cunha.

Tem uma cor muito escura, compacta.
Aroma intenso, com muitas  notas minerais e de chocolate preto amargo, cacau e baunilha. Em ambiente fumado aparecem as notas frutadas e que nos lembram framboesas, ginjas e groselhas.
Boca encorpada e com uma bela acidez. Muito boa conjugação de sabores, onde a fruta aparece elegante e com a companhia de baunilha, cacau e notas minerais. Final longo e compacto.

Na minha opinião, é um vinho claramente superior à colheita de 2005. Um passo à frente na qualidade, pois passa de um vinho com perfil muito regional, muito fechado e egoísta, paras um vinho que, apesar de a marca da casa estar lá e o perfil esteja bem marcado, está mais solto, mais complexo e agradável de provar. Um belo vinho, ainda com vida pela frente. 16,5.
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